28/02/2014

Encruzilhada

E agora,
Como escapar?
O que fazer para não ser
Preso?
Quem terá a chave da minha casa,
Da entrada da minha vida?
Onde estará a saída?

27/02/2014

Sonho

Já fiz tantas poesias
Que nem sei
Contar:
Já matei pessoas,
Já comi bichos,
Já perdi moedas,
Já andei sujo,
Já fui importante,
Já me apaixonei...
Mas nunca realizei um sonho:
Nunca voltei atrás.
E quem sabe esse não seja meu fim?
Só não vou
Pagar pra ver.

26/02/2014

Conveniência

Quem me daria um tempo,
Além do que for preciso,
Senão você?
Quem me dará razão,
Para viver com o coração,
Senão você?
Quem devorará eu e você,
Se não me vir?
Quem não me vê,
Convenientemente,
Senão você?
E o fim é sempre adiado,
A cada nascer do sol,
A cada nascer do só.

25/02/2014

Desejar tudo. Sempre!

Há um passado esperando por mim
Na terra natal.
Há um presente, afinal.
E nenhum futuro
Para nós.
Mas não cansamos de desejar
Tudo em nós.

24/02/2014

Você não sabe ler?!

Não sei dizer adeus
Porque não sei dizer não.
Só sei escrever,
Mas você não sabe ler.
Sim, você não me lê.

23/02/2014

Foi mas não foi

Foi a vida inteira,
Faceira.
Foi sem mais,
Em paz.
E continua aqui,
Cheia de si,
Em mim.

22/02/2014

Idealização de verdade

E por não ser de verdade
Não significa que sou de mentira.
Não sou falsidade,
Só ilusão
De sua visão
Idealizada
De verdade
Em mim.
Mas não sou assim.

21/02/2014

Saber(-se) sem saída

Só há uma entrada?
Não há saída?
O que será de nós,
Se não for de mais
Ninguém
Saber?

20/02/2014

Homem

E o pior é que seu homem
Não é,
Nunca será
Seu
Homem não é,
Nunca será
Eu!

19/02/2014

Doido

Fui doido por você.
Fiquei doido com você.
Estou doído sem você.
Mas não quero mais saber.

18/02/2014

Na rua por aí

Havia uma adolescente só na rua.
Ela estava só na sua,
Estava nua,
Na lua
Cheia de si.

Havia uma adolescente só.
E muitos adúlteros.
E todos se deram
Muito bem.

Havia uma adolescente.
E ela era eu,
Buscando o que perdeu.
Ela se perdeu!

17/02/2014

Vai de retro!

Quero ver a lua cheia de frente,
Mas não quero ver você de lado.
Não quero tê-la a meu lado.
Nem atrás de mim.

16/02/2014

Sobras

Só sobraram orquídeas,
Velas,
Bilhetes,
Cabelos,
Poesias...
E saudade.

15/02/2014

Eduarda

Ela tinha uma camisa velha, cheirosa como se fosse nova.
Uma camisa puída feito suas memórias.
Ela tinha duas fotos velhas,
Retocadas.
E uma vontade enorme de encontrar a paz,
Seu pai.
Ela tinha uma mãe, um marido, dois filhos, uma casa, muitos tapetes...
E lágrimas,
Muitas lágrimas,
Uma para cada lacuna,
Para cada dia sem entender porquê.
Um luto eterno,
Luto que nenhum perdão apaga.
Mas reconstrói seu lugar no mundo.
..............................................................................
Em homenagem a Eduarda Crispim Leite, filha do militante Eduardo Leite (Bacuri), que foi torturado e morto pela ditadura militar. Ela nasceu durante a ditadura. As torturas que seus pais sofreram ainda a torturam. E não há dinheiro que pague a falta que faz.

14/02/2014

Amores

Todo revolucionário tem uma família
Maior que uma família,
Do tamanho de meio mundo,
Meio mudo.
E carrega essa gente toda de peito aberto,
Em braços fortes
E corações cheios
De amor.
Seguir é o que resta pra quem fica atrás
De um sonho que se quer viver.
E não se vive.
Não se deixa levar
Por medos ou modos impostos.
Módicos impostos
De fazer cumprir uma missão.
Todo revolucionário tem uma caixinha,
Onde se guarda o que se aguarda ver:
Amores.

13/02/2014

Pai

Sou seu pai de fato.
E não tenho nenhum direito,
De ter você pra mim.
Porque o mundo é maior que uma barriga cheia.
E ele precisa mais de você do que eu.
Sou seu pai de fato.
Mas não tenho direito de impor deveres
De amar esse mundo que não nos pariu.
Sou seu pai de fato.
E isso me basta tanto
Que nem sei o que não é ser
Pai.
E nem sei se deixarei de sê-lo
Quando a mentira se tornar verdade,
Quando a verdade se desfiar inteira.
Porque sou seu pai de fato.
Sou seu...
Fui!

12/02/2014

Tormento

Ele não tem acento,
Nem assunto.
E se assenta
No tormento,
No aumento
Do lamento.

11/02/2014

10/02/2014

Amar não está pra peixes

E quando nos faltar amor,
Que não nos falte ar.
Um espaço pra respirar
O ar da manhã,
Do amanhã,
Hoje,
Sempre.
Sem ar não se vive,
Nem se ama.

09/02/2014

Repressão (policial) e ressentimento (social)

Havia uma repressão sentida a golpes de chicote, uma violência que se realizava no mato por capitães sem patentes, nem reservas.
Havia uma polícia política, de uma violência desmedida, cheia de ordens e ressentimentos.
Havia uma polícia vigilante, ignorante, torturante, mal formada e mal informada: ela se tornou um esquadrão, com um batalhão de assassinatos.
Havia uma polícia seletiva, repressiva, que achava que a ordem era para ser batida na mente, no corpo, na cidade e no campo (político), normalizando a violência e violentando a norma.
Era uma polícia desproporcional, ilegal, abusiva, repressiva...
É. Somos.
E não há movimento que suporte tanto ressentimento, de lado a lado.
Quem vai afrouxar a corda primeiro?
.....................................................................................
Esse texto poético foi escrito após conversa intensa realizada com o amigo Thiago Fabres de Carvalho sobre a polícia brasileira e seu histórico de violências e violações. A conversa aconteceu na praia de Ubu, município de Anchieta/ES, em junho ou julho de 2013, durante importante retiro espiritual.

08/02/2014

Flores

As flores não encobrem
Nossa dor,
Não perfumam
Esse odor
Que nos enche de torpor.
E o corpo moído
Não se vê,
Não sente mais prazer.
Nem cansaço,
Nem aperto,
Nem suor...
E, no entanto, o amor jamais acaba.
----------------------------------------------------
Um ano. Ah!...

07/02/2014

Sol forte em Curitiba é morte

O sol forte
Prenuncia a morte.
Ando sem sorte.
E sem o meu amor.
-----------------------------------------------
O sol raiou logo cedo em céu aberto e límpido. Mas o ar continuava gelado. E eu, agasalhado em cobertas peludas. (nov./013)

06/02/2014

Chuva

A chuva veio acabar com algumas reinações na terra:
Aterros irregulares
E enterros regulares;
Pessoas sobre e sub;
Terras demais e de menos...
E o bem virá do fim,
Se o coração amolecer.

05/02/2014

Desigual

Tudo é pra poucos.
E você querendo muitos
Amigos instáveis,
Indeléveis,
Fugases.
Ares,
Mares,
Pares
Jogados
Em si.
Azares!
Vai a Roma!

04/02/2014

Autonomia

E se foram juntos,
Separadamente.
Como uma boa visão.

03/02/2014

Cabelos

Encontro seus cabelos
Por toda parte.
Enquanto você,
Em mim.

02/02/2014

Madrugada

Madrugada a dentro
E você pelada,
Esperando sentada,
A hora que vou, enfim, chegar.

01/02/2014

Deus meu! (uma leitura poético-consumista da fé)

As pessoas querem se aproximar de Deus.
Ele mostra sua face humana e elas querem
Tocá-lo,
Apertá-lo...
Matá-lo.
Elas querem um pouco dessa divindade,
Mas quando descobrem sua humanidade...
A queda é inevitável!
O fim de Deus é sua humanidade.
Enquanto se mantiver distância de Deus,
Ele estará vivo,
Ele será perfeito,
Salvador...
As pessoas só esquecem de uma coisa:
Deus também tem vontades!
Ele quer se aproximar das pessoas,
Tocá-las,
Apertá-las,
Usa-las...
Ele quer um pouco mais de humanidade,
Mas quando percebe a frustração delas...
A fuga é inevitável!
O fim da humanidade de Deus é sentir com.
Enquanto se mantiver a proximidade com Deus,
As pessoas estarão mortas,
Elas se verão imperfeitas,
Pequenas...
E desejarão a liberdade,
Desejarão ser Deus.
Esse é o fim de tudo.
Eis o princípio da religião...
E da vida a dois.