12/12/2011

Remédios são objetos que sujeitam os sujeitos

Ninguém pode ser a cura de ninguém:
Uma voz que acalma,
Uma presença que estimula,
Um toque que liberta
Ou um pau que enterra
Em pensamentos desconexos
(E felizes).
Você tem que se acalmar,
Tem que se tocar
E se meter,
Aonde quiser,
Pra realizar a vida que se quer:
De dentro pra fora,
Pra não ser só bela viola.
Se a cura não estiver em si,
Não estará em mim.

Objetos foram criados pra nos dar segurança e facilidade
(E alguma felicidade):
Inventamos objetos pra libertar os sujeitos.
Mas nem sempre eles querem ser libertos:
Às vezes queremos nos sujeitar a ser objetos.
Até aí nada mal.
O problema é quando se é forçado a tal,
Quando se é transformado numa boca,
Num abraço,
Num toque...
Num pau de estimação,
Sem subjetivação.
O bem amado pode não ser
O amado bem.

Bem,
Ninguém é coisa de ninguém,
Mas não há problema em acordar o objeto do sujeito.
Mas se não acordar...
Pode ser tarde demais
E fazer sofrer de insônia.
Ou saudade.
Aí, só remédios podem remediar!
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Imagem: Mais uma foto do grande Carlo Mollino (1905-1973). Mollino além de fotógrafo era arquiteto, designer e escritor. Muitas de suas fotos com belas mulheres eram feitas com a presença de objetos em cena (vários desses objetos eram criação do próprio Mollino), chamando o interlocutor a um questionamento sobre os limites entre sujeito e objeto. Ele colocava, por exemplo, uma mulher nua se apoiando numa cadeira na tentativa de tornar também o expectador um objeto de seu desejo [de consumir o outro (sujeito ou objeto?)]. Sem falar no jogo de sombras e sobreposições de fotos que ele fazia, e que às vezes confundia mais que esclarecia. Como é obscuro esse nosso desejo!... Precisamos de remédios?!