10/06/2011

Trem das seis

Vem chegando o trem das seis, mas parece três. Lá vem; lá vem, lá vem, lá vem, lá vem... Olhos despertos, óleos dispersos, espalhados por sobre as camas, pingados no chão. Próxima estação: levantar, se lavar, se trocar, começar... O dia. O dia já vai chegar. Chegou, mesmo antes de começar. Chegou sem me preparar. E não adianta reclamar. O trem já vai partir! E agora eu tenho que ir. Piuííííí! Porque amanhã ele vai retornar, no mesmo horário, no mesmo lugar.
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Quem não conhece o trem das seis precisa ter três filhos pequenos de vez, e ser acordado às seis. Mais do que isso, precisa saber o que é seguir nos trilhos dos filhos. E tem de dormir cedo (junto com eles), porque no dia seguinte lá vem o trem, pontualmente. Irritantemente. Em meio à chegada e à partida do trem, tento levar a composição para a estação. Esta ação poética. Esta é a ação de viver. Toda poesia é composição, é decomposição. Vivo na poesia, vivo me decompondo. E minha graça está além: um dia essa criançada cresce e vai ler isso aqui. Mesmo que eu não esteja mais aí. Já estive aqui. Intensamente. Atropelado diariamente. Por esse trem que me trouxe tanta agonia. Tanto quanto alegria.
E vamos em frente!