04/03/2011

Gato não voa

O gato acuado subiu no telhado. Olhou para todos os lados e se sentiu angustiado. Estava sem saída: suas setes vidas oprimiram sua única. E não sabia o que fazer, não tinha pra onde correr. Olhou para baixo, como quem calculasse a altura da queda, pegou um fôlego profundo e lançou-se. Foi caindo com um miado constante e estridente. Assustado e com as unhas de fora, como se fosse agarrar-se em algum lugar. Mas não havia onde se agarrar. Caiu e se arrependeu de ser tão solitário, de amar seu território e não a sua dona. Pelo menos naquela noite dormira abraçado a sua nova dona, à mesma dona, que agora o vira renascer, sobreviver. Voltou ao antigo lar, com outro olhar. E acomodou-se, temendo que precisasse de asas pra voar. E reconhecendo que chegou perto disso, mas que o chão o lembrou de que não pode voar. Talvez apenas sonhar.