29/01/2011

Embolagens

Hoje sinto que a solidão está comigo.
Como uma forma de castigo.
E se ela pensa que vou deixá-la ir,
Está enganada,
Vou abraçá-la até dormir.

E quando acordar,
Quero falar bobagens,
Embalado pelas emboladas,
De pernas enroscadas
E lábios lambidos.

Quero essa solidão aqui,
Bem junto a mim.
Pra não deixar escapar nada,
Nem uma piscada,
Sem que possa registrar.
Pra que depois viva de saudades.
Com toda ilusão
E nenhuma razão.

E quando a solidão cansar de mim,
Saio às ruas atrás do meu vício,
Pra receber meu suplício
Em tiradas e lambadas
Que não deixam visíveis marcas,
Mas nem por isso são irreais.

Sem as marcas do seu corpo,
Sem as marcas na minha alma,
Fico só com ela:
Saudade!
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
Fotografia do poeta inglês Oliver Bernard, tirada em 1956 pelo fotógrafo maldito e genial John Deakin (1912-1972). "Deakin era um refinado mentiroso. Era também um alcoólico, um canastrão, um difamador e um insolente. Não tinha, de resto, respeito por nada nem ninguém. (...) Morreu em 1972, na miséria e no esquecimento (...) as fotos são realistas, cruas e directas. Representavam aquilo que não sai propriamente nas revistas de moda". Fonte: http://obviousmag.org/archives/2007/05/john_deakin_o_f.html