30/09/2010

João do Amor Divino de Sant'Anna e Jesus

Essa é uma homenagem a um pobre artista brasileiro que enfrenta todo dia a dureza da vida sem deixar cair a alegria necessária para suportar. São dezenove anos de luta com a mesma rapariga, com nove bocas de crianças para dar comida. E com a confiança de quem não pode parar de lutar, e que para isso, é preciso sempre se reinventar, João subiu ao último andar de um edifício de sete andares e ameaçou se jogar. A multidão se formou lá embaixo olhando para o alto, esperando o suicida chegar. Atendendo aos gritos ávidos pela desgraça alheia, ele pulou, fazendo a alegria dessa gente inclemente e insensível que se põe a curtir o espetáculo do fim da vida como forma de entretenimento, como fuga de suas próprias realidades esmagadas. Desce João, voa sobre essas cabeças vazias, certo de que isso é estritamente necessário para a manutenção da existência (por mais contraditório que possa parecer). Os olhos atônitos e os sorrisos nos semblantes esperam o corpo se partir em mil pedaços no encontro com o chão. Lá vem ele no silêncio característico de quem já morreuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Quase todos os olhos se apertam e poucos vêem o desastre final afinal. Buuuuuumm! Poeira subindo e rodando por toda parte e os olhos abertos não enxergam nada por alguns segundos. A poeira vai se dissipando e os olhos atentos procuram a mancha de sangue e os órgãos esfacelados e espalhados. Mas o sangue está nos próprios olhares. No chão, apenas um corpo deitado. Mas de repente, para a surpresa de todos, João mexe a cabeça e os dedos, se apoia sobre os braços e vai se erguendo vagarosamente esboçando um sorriso nos lábios. Ninguém acredita no que vê: ele levanta totalmente, se dobra para frente e estende o braço direito num sinal de respeito ao público, que o aplaude exaustivamente. É um vitorioso, é um profissional do suícidio cotidiano dessas classes sofridas (os pobres e os artistas) numa sociedade da técnica e da insensibilidade. João guarda pra sempre os aplausos e os gritos da multidão e recolhe com as mãos as moedas redentoras de sua condição. A existência está garantida (a dele mesmo e a de seus dependentes) por pelo menos mais um dia. Até que venha outro dia de espetáculo e drama. Agora ele mergulha de cabeça na sua arte. Agora ele tira o leite da pedra dura. E vamos à luta!
------------------------
Essa breve história é contada e cantada por Gonzaguinha na música "João do Amor Divino". Dá-lhe, poeta!

29/09/2010

Não quero mais esperar

Não sei mais o que espero.
Não sei porque espero.
Não sei se espero.
Não tenho mais idade pra esperar:
Sofro daquela intolerância típica das gerações mais velhas,
Da impaciência com esses jogos de azar,
Com essa racionalidade distante.
Sou da época do carinho e da flor.
Hoje tudo é espetáculo.
Hoje não quero mais aguardar,
Nem sequer um instante.
E sei que nada será como antes.
Também não quero seguir em frente:
Quero parar agora,
Quero pular fora.
Um humanista sofre com tanta desumanidade,
Com tanta insensibilidade.
Nada hoje me compadece.
Hoje é o fim:
O ciclo não vai se fechar.

28/09/2010

Dobrado, amassado e cortado ao meio

Sou um homem dobrado.
Longitudinalmente:
De cima a baixo.
E ao revés.

Tenho tudo em dobro:
Alegria e tristeza;
Inteligência e beleza;
Responsabilidade e safadeza.
Tenho duas cabeças,
Quatro olhos
(E muitos outros sobre mim),
Quatro braços
E quatro pernas:
Sou um octopus.

E essa dobradura de mim
Me faz fininho.
E vou passando em qualquer lugar.
Sem ninguém notar.
Vou me apertando por aí.
Vão me apertando por aí.
Sem ninguém notar.

Mas corto um dobrado:
Vivo amassado.
Dividido.
Temeroso.
Carente.
Só, aguardo.
E sinto a dor da cisão.

E as dobras de mim
Se tocam assim:
Pra lá
E pra cá.
Como um sino a badalar.
E eu mesmo não badalo.
As dobras de mim se tocam simetricamente.
Aproximando o que estava distante.
Distanciando o que estava próximo.
Como um contato entre dois mundos distantes.
O mundo de cá;
E o mundo de lá.
Separados por um fosso quase intransponível
Habitado por caras feias e terrores;
Por egoísmos e odores.
Odores que não saem de mim,
Que me fazem tremer.
Que me fazem querer.

Sinto a tesoura cortando no pontilhado,
Trilhando o lugar marcado.
Com bastante cuidado.
Com muita pressão
E precisão.
Vai passando pelo dobrado
E afastando as duas metades de mim.
Mas não há sangue,
Porque é só um papel.
Um mero papel.
Mais um papel.

Levo o machado na cabeça
E me parto em dois.
E essa partida
Me faz considerar sobre o jogo,
Embora não seja um jogador.
Sobre a luta,
Embora não seja um lutador.
Sobre a lâmina,
Que rasga.
O corte,
Que sangra.
A ferida,
Que fica.

E espero a costura dos dois lados.
O melhor dos dois mundos,
Que estão separados.
Mas sei que a quelóide vai ficar.
E não sei se quero costurar.
Talvez eu queira comer as víceras que saem de mim.
E servi-las a quem quiser um pedaço de mim.
(Se é que alguém quer).
Para saborear o amargo da minh'alma;
Bem devagar, com calma.
Enquanto tudo está fresco;
Enquanto há tempo.

E depois de tudo isso,
É preciso considerar a morte.
É preciso considerar a sorte.
Que sorte a minha:
Encontrei um gato negro sob a escada!
Esse bicho vai arranhar minha estabilidade,
Vai encher a minha cara de instabilidade.
Mas amanhã será outro dia.
Será?
.....................
A tesoura e o machado são dois intrumentos cortantes. No fim das contas ambos os intrumentos produzem a divisão. Acho que prefiro a passionalidade grotesca do corte do machado ao corte racional e linear da tesoura sobre o papel. Gosto mais das feridas abertas espontaneamente, com violência e imprecisão. Penso que por trás do machado há um animal, um apaixonado, um errante como eu. Mas por trás do corte preciso da tesoura pode estar alguém que eu não sei ser: perfeito, frio ou superficial.

27/09/2010

Relação amorosa é objeto

Quero nessa postagem defender a idéia de que relação amorosa é objeto, é produto. Se, como defendi na postagem anterior, o amor é uma ação individual humana comprometida com a alegria do outro, então, a relação amorosa acaba sendo uma consequência do amor, um produto da ação de amar. E como consequência de uma ação realizada por seres humanos falhos, limitados, errantes, a relação amorosa também é frágil e está sujeita a quedas e quebras. Trata-se de um produto (objeto) frágil. Faço essa afirmação inicial para tentar responder à seguinte questão: a cama salva a relação?
Ouço constantemente das pessoas que a vida sexual de um casal responde por grande parte do sucesso ou fracasso de uma relação amorosa. Ontem mesmo um familiar me falou até em valores, embora não tenha dito a fonte desse "conhecimento": "80% da relação é sexo!" Eu discordo inteiramente. Sei que sexo é parte da ação de amar a outra pessoa e que tem um papel importante na relação, mas ele não pode ser responsável pelo sustento de uma relação amorosa por motivos óbvios: com raras exceções, o cotidiano de um casal é muito mais do que sexo. Se não fosse assim, não trabalharíamos e nem produziríamos nada. Além do mais, é impossível que esse "conhecimento" seja verdadeiro porque nos falta tempo e espaços para colocá-lo em prática. Quer dizer, precisaríamos de mais tempo e mais espaços dedicados ao prazer do que temos de fato. O sexo será tanto melhor, quanto mais intensamente os amantes dispuserem-se a amar.
A relação amorosa é o objeto produzido pelos sujeitos amantes. O objeto (o vínculo, a relação) não pode ser mais importante que os sujeitos que o produzem. O fetichismo é exatamente isso: uma reificação do sujeito e sobrevalorização do objeto. O fetiche faz parte de uma relação amorosa, mas não pode ser a base dela porque geraria uma insegurança enorme entre os amantes, já que o fetichismo está centrado no egoísmo. E aí não tenho dúvidas de que o egoísmo mata a relação amorosa aos poucos, porque gera uma insegurança emocional nos agentes (amantes), que se veem como meros objetos de realização do prazer egoístico do outro. Sem o comprometimento com a alegria do outro o amor produz um vínculo amoroso frágil, uma relação fraca.
Relação amorosa é como um objeto frágil que pode rachar. Ela deveria vir sempre acompanhada daquele adesivo vermelho onde se lê em letras maiúsculas: CUIDADO FRÁGIL. E o cuidado aqui não deve ser com a relação, mas com o outro. Sob pena de nos esforçarmos mais em salvar a relação (o objeto) que o outro (o sujeito), mantendo uma relação de fachada.
Por fim, pra responder a pergunta inicial (a cama salva a relação?) eu diria o seguinte: a probabilidade disso acontecer é mínima. Até porque precisaria ser uma cama elástica enorme, quase como a rede de proteção utilizada pelos trapezistas para salvar o objeto, que está em queda livre, de se partir. A vida é tão rápida que nem dá tempo de pensar em tecer uma rede de proteção.
É isso!

26/09/2010

Reflexão crítico-poética sobre o amor

Vivemos num tempo em que parece que alguns temas de análise vão se tornando obsoletos. Parece até que construímos um conhecimento seguro e definitivo (verdadeiro) sobre eles, alimentando o ideário do senso comum. Por exemplo, religião (que em geral é vista como o aprisionamento da fé), casamento (experiência necessária, mas que transforma a relação numa rotina sem graça), fim-do-capitalismo (o fim do socialismo real indica que o capitalismo é o melhor sistema econômico e que veio pra ficar. Será?)... Hoje quero propor o enfrentamento crítico-poético de um desses temas das quais em geral não ousamos discutir mais do que já conhecemos: o amor.
Começo fazendo uma afirmação de caráter genérico: o amor é uma tentativa de acertar. Mas acertar o que? Acertar no agrado ao outro; acertar-se com o outro. O amor é uma ação comprometida de doar-se em função de alegrar o outro, o que gera imediatamente uma relação de troca (como mostrarei mais ao final). Mas esse outro não precisa ser apenas um companheiro, namorado, amante ou parceiro. Pode ser um outro indefinido (qualquer um) ou alguém conhecido pela qual não se nutra nenhuma pretensão de intimidade ou cumplicidade, por exemplo, um amigo, um filho, um familiar, um empregado etc. O que estou propondo é uma universalização do amor para além de uma relação romântico-afetiva. Quer dizer, o amor caracterizado agora como um esforço (ação) de alegrar o outro. E alegrar pode ser aliviar as cargas, apoiar. Com essa definição ampla, podemos incluir o amor em qualquer tipo de relação que se possa estabelecer, desde as relações afetivas até as relações de trabalho, passando por uma infinidade de outros modos (infinitos) de relações entre pessoas.
A segunda afirmação geral que quero fazer é a seguinte: o amor não é a finalidade a ser alcançada numa relação (qualquer que seja ela, como dissemos acima), mas o meio para se alcançar uma finalidade. Mas que finalidade? Aí vou sugerir, ainda de modo geral, que essa finalidade seja alegria. E aqui trabalho com alegria (e não felicidade) como quem reconhece que não se pode chegar a um estado final e acabado de contentamento que seja definitivo (felicidade). O ser humano é tenso, intenso e limitado, razão pela qual estamos sempre querendo mais, superando nossos limites. O que significa que não há porto final e seguro, que estamos sempre em busca de novas experiências, novos desafios, novas conquistas. E é essa tentativa de superar etapas que nos motiva a continuar vivendo. Se eu chegasse a um estágio completo de alegria (como o termo felicidade parece indicar) eu provavelmente não teria motivos para continuar vivendo, eu deitaria e morreria abraçado com a coisa ou pessoa conquistada.
Como somos seres errantes, a manifestação dessa ação de amar pode ser realizada com muita intensidade (paixão) ou com pouca intensidade. Mas ela deve sempre, necessariamente, ter o objetivo de alegrar o outro. Fujo aqui da contraposição entre paixão e razão como quem percebe que não se pode cair na armadilha de estabelecer um olhar dicotômico sobre esses dois conceitos. Quer dizer, a paixão não é inferior à razão, nem o contrário. Em alguns momentos a paixão pode ser sentida como um aprisionamento, ou irresponsabilidade, ou mesmo exagero. Mas em outro momento a paixão pode ser a força sobre-humana de construir ou reconstruir uma relação das cinzas, do improvável, do caos. Por outro lado, a razão pode produzir um avanço seguro e constante da relação ou mesmo a burocratização, a estagnação, ou esfriamento dessa relação.
E se somos seres errantes, falhos, limitados, não podemos dar ao amor uma transcedência para além do vivido por atores sociais concretos. Quer dizer, o amor não está na relação, mas no indivíduo que assume o compromisso de agir amorosamente. Esse sujeito manifesta sua ação amorosa para com o outro, que percebe essa ação na sua prática concreta, na sua existência.
Assim, enfim, chegamos a uma definição final: o amor é uma ação individual e humana que se destina a produzir alegria no outro. E pra que uma relação amorosa se mantenha, é preciso uma reciprocidade entre os amantes. Quer dizer é preciso que as pessoas envolvidas na relação se doem de forma comprometida a conhecer os desejos e necessidades do amado, a alegra-lo. Portanto, é possível amar sem ser amado. E se isso acontecer, o melhor a fazer é pular fora. Aí deveremos enfrentar criticamente um outro problema: a honra, o orgulho próprio, a vergonha na cara. Mas essa é outra história.
________________________
Queria mesmo desmitificar o amor, torná-lo mais humano, mais real: o amor não é finalidade, é meio; o amor não é ideal, é concreto; o amor não é externo, é interno; o amor não é sentimento, é ação; o amor não é eterno; é contextual; o amor não traz felicidade, traz alegria; o amor não é para poucos, é para todos. É pra mim. E pra você. E essa desmitificação proposta não banaliza o amor, mas o aproxima de nossa realidade, de nossa própria capacidade. E elimina o medo de amar. E de dizer que se ama a quem se ama. Não tenha medo de amar! Não tenha medo do amor!

24/09/2010

Corpos deitados no chão

Olho para o chão e ainda vejo os corpos caídos ali. E ao lado uma manchinha de café. Mas eles não estão mortos. Eles ainda gemem. E suspiram com os olhos parados. Com os olhos virados.
Embora a morte pareça breve, eles não querem se entregar. E lutam para continuar por ali. Dia após dia. Semana após semana. E ninguém sabe do que se trata, donde vem o cheiro estranho que paira no ar e os cabelos encontrados em todo lugar. Nem a tal da música francesa que toca sem parar.
O sangue já pinga e o sorriso continua parado no canto da boca. E todos percebem que há alguma coisa errada (ou certa) para acontecer. Mas ninguém sabe o quê.
E eu que não sou bobo nem nada, não quero ficar pra ver. Quero mesmo é sair daqui. Viajar para algum lugar, onde se possa descansar, cansar, pensar, conversar, passear, relaxar... Gozar. Quero sair por ai. Pode ser pra Guaçuí. Ou pra Sapucaí. E se ainda puder ir à luta, quero ir a Cuba.
Quem sabe tudo não dê certo? Quem sabe o errado não se torne em certo? Quem sabe ao certo. Quero estar sempre por perto. Mesmo quando tudo parecer incerto.
Mas se a morte, enfim, chegar... Vou deixar os corpos no mesmo lugar. Ficarão no chão, sem sepultar. Até a decomposição, afinal, tudo apagar. Isso vai demorar. Enquanto isso, vamos comer uma picanha ao ponto em algum lugar e depois sair pra dançar?
...
Desenho feito por Picasso. Gênio!

23/09/2010

Está tudo fora de lugar!

Está tudo fora de lugar!
Se é que as coisas tem lugar.
Eu mesmo desconfio de estar.
E se você pensa em ficar,
Coloca outro em meu lugar.
Porque não pretendo continuar.

Quero achar um lugar
Onde possa descansar:
Deitar a cabeça e esparramar o corpo suado.
Sentir o cheiro estranho sem o chamar de fedor.
Quero um lugar onde o limite seja o cansaço,
E a alegria esteja no dia-dia.
Sem hipocrisia,
Nem mordomia.
Quero um lugar onde não haja ninguém.
Onde possa encontrar alguém.
Alguém que também não se encontre em algum lugar.
Alguém que não se encontra em qualquer lugar.
E que se encontre a caminhar.
(Ou pedalar)
Mesmo sem saber se vai chegar.

Está tudo fora de lugar!
Se é que algum dia já houve algo no lugar.
Fui!

20/09/2010

Desigualdade social

Queria escrever algumas linhas sobre a desigualdade social de forma leve, introdutória e didática. Meu interesse maior é diminuir as confusões que se fazem sobre esse tema, militando pelo conhecimento como meio de reconhecimento e enfrentamento da realidade.
A primeira coisa que preciso dizer é que ao falar de desigualdade social, não se está pretendendo, a contrario sensu, buscar uma igualdade material ou mesmo ontológica, o que não se faria sem uma força coatora externa (autoritária ou totalitária). O objetivo é chegar a uma igualdade formal ou igualdade de tratamento (que efetivamente todos sejam tratados como iguais pelo poder público, sem distinção de qualquer ordem), uma igualdade de oportunidade, que é democrático. Aliás, a desigualdade social é uma barreira real para a efetivação da democracia.
O conceito de desigualdade social é relacional, porque relaciona riqueza e pobreza. Desigualdade social não é o mesmo que pobreza. Pobreza é desprovimento material, escassez de recursos econômicos. Já desigualdade social é uma medida da distância entre ricos e pobres numa sociedade. A desigualdade social é medida por índices (que são uma composição de variáveis explicativas), do qual o índice mais conhecido é o Índice de Gini. Este índice varia de zero a um. Quanto mais próximo de zero, menos desigual é uma sociedade; quanto mais próximo de um, mais desigual. Não há sociedade com índice zero de desigualdade (sem desigualdade) nem com índice um (desigualdade máxima). As sociedades menos desiguais ficam em torno de 0,2 e 0,3 (sociedades escandinavas); as mais desiguais, em torno de 0,7 e 0,8. O Brasil fica na casa de 0,6 e é considerado um dos países mais desiguais do mundo. Importante falar da desigualdade como medida do abismo social entre ricos e pobres porque as análises de desigualdade são eminentemente análises quantitativas.
Outra distinção que precisa ser feita é entre desigualdade e diferença social. A desigualdade social é um problema social e já comecei a explicar acima. Diferença social é um conceito que está vinculado à idéia de diversidade cultural, e é algo desejável porque é um dos patamares da democracia. Portanto, confundir o conceito de desigualdade com o de diferença social é perverso porque tomamos algo ruim (desigualdade) por algo bom (diversidade ou diferença). Nem sempre a desigualdade social foi vista como um problema social. A desigualdade se torna um problema social no contexto da modernidade. Mas os liberais não tiveram a desigualdade como um problema em si, sendo seguidos pelos funcionalistas (com algumas poucas alterações) nessa visão sobre a desigualdade.
Há indicadores de desigualdade social, que como o nome já diz, indica a probabilidade de haver desigualdade social numa dada sociedade. Entre os indicadores mais conhecidos podemos citar: mobilidade social (dinâmica de ascensão e descenso de uma sociedade), mortalidade (tipos de mortes), morbidade (tipos de doenças), segregação espacial (espaços para ricos e pobres), diferenças regionais (distribuição da riqueza em diferentes regiões de um país) etc.
Assim como há indicadores de desigualdade, há tipos de desigualdades. A desigualdade social clássica é a desigualdade econômica, que Marx chamava de iniquidade social, e da qual nos restringimos a falar até agora. Mas há outros tipos: desigualdade racial (desigualdade entre as diferentes etnias/raças numa sociedade), desigualdade de gêneros, desigualdade de oportunidades (análise da distribuição de educação formal nos diferentes estratos sociais) etc. Os diferentes tipos de desigualdades podem ser analisados em conjunto. Por exemplo, pode-se analisar as relações entre desigualdades econômicas e desigualdades raciais; entre desigualdades de gêneros e desigualdades raciais etc. Mas vou falar sobre isso em outra ocasião. Até lá.

19/09/2010

Só sei ser com você (dando razão a Durkheim)

Só, não sei ser.
Não sem você.
Só não sei se...
Só você sabe.
Só não, sabe?
Sei ser com você.
Como você,
Só você!
Só eu e você.
Sei ser o que não sei que sou.
Com você.
E você só sabe ser você,
Sem saber que sabe,
Sem saber que sei,
Sem saber que só,
Não sei ser.

E saber ser só,
Só sem você.
Só se você...
Só se...
Deixa pra lá,
Melhor não pensar;
Melhor não dizer.
Eu precisava quebrar a forma [a fôrma] para ser feliz. Porque a estrutura que sustenta também constrange, oprime. E às vezes é preciso ir longe para valorizar a proximidade; sentir a dureza da solidão para avaliar a relação. Mas pode ser que não haja tempo de voltar.

Só.
-----.............................-------...........
Reflexão poética alinhavada há mais de um ano, após assistir ao belíssimo filme Na Natureza Selvagem, e publicada só agora. A personagem quis voltar, ele ia voltar, mas... Era tarde demais. Restou a foto na máquina. Só. Todo o resto é poesia.

17/09/2010

Golpe do baú

Tô de olho na sua renda,
E vejo ela desaparecer.
Penso em aplicar o quanto antes,
Antes de tudo acabar,
Antes de você se cansar:
Investimentos na poupança, fundos, ações...
E outras aplicações.
Tô de olho na sua renda,
Ela faz meu capital crescer.
E se você acha que estou de putaria
É porque não entende nada de economia.
--------------------
Embora a economia às vezes pareça uma grande sacanagem.

16/09/2010

Máscaras e rótulos

Essa visão que você tem de mim não é estranha. Outras pessoas também tiveram. Outras tem. (A ingenuidade não está só em você). Mas as dificuldades da vida me ensinaram a não confiar nas máscaras: nem nas minhas nem nas atribuídas. Sou cauteloso comigo mesmo. Mas confio em você. E se você me vê assim, guardo sua consideração na minha pasta azul. E continuo a viver. Só. Sem culpa nem temor. Não há nada que substitua uma caminhada na praia, um filme despretensioso no cinema ou um bate-papo descontraído sobre idéias e artes. Mas em nada disso dispenso sua companhia. Um bom sociólogo não consegue viver só. Nem eu. Nos rótulos me interessam apenas as datas de validade. (Embora às vezes esqueça de observá-las e passe mal). Nem a indicação da origem me desestimula de experimentar. Pois o melhor vinho é aquele que a gente gosta. E se a gente não gosta, não gosta mesmo. A gente se afasta. Só Bourdieu discute gosto. Eu não, prefiro discutir idéias, possibilidades, vontades e dramas. E você.
.........................................................
Esse rodapé é para explicar que esse post foi escrito para uma reflexão sobre as críticas classificatórias que tenho recebido de alguns alunos, que tentam me classificar para melhor me entender. Fujo da aceitação dos rótulos, dos títulos, dos enquadramentos, porque tendo a considerá-los castradores, camisas de força. Eles me impedem de tentar ser outra coisa, de mudar. Gosto de classificações mais gerais: sou gente, sou esforçado, sou poeta. E não faria nada disso sem paixão.

15/09/2010

Conflito e reprodução de classes

Os pais querem seus filhos convivendo com os filhos das mesmas classes sociais a que pertencem ou de classes imediatamente superiores, por uma questão de segurança, para reduzir os riscos de dilapidação do patrimônio familiar com a contrução de um "conhecimento" aventureiro ou radical e para executar um projeto de ascensão social.
A escola aparece, assim, como uma instituição conservacionista, que seleciona as classes por poder aquisitivo (os que podem ou não pagar os valores cobrados para inserir seus filhos num processo de socialização de classes) e que as reproduzem no acesso aos espaços de poder da sociedade, mantendo as desigualdades sociais.
A incorporação do modo de comportamento (habitus) típico das classes acontece num longo processo de violência simbólica, onde a escola adestra as crianças a comportarem-se como esperado pelas classes sociais nas quais estão inseridos. Isso significa que quando uma família não tem recursos financeiros suficientes para arcar com as despesas das melhores escolas particulares e faz das tripas coração pra isso, está tentando realizar um projeto de ascensão social geracional. Quer dizer, quando uma família de classe média paga por uma escola de classe alta para seus filhos (mesmo que a mensalidade seja incompatível com sua própria capacidade econômica), o que se quer é que a geração dos filhos tenha uma "sorte" melhor do que a dos pais (a sorte dos ricos numa sociedade desigual).  Como dinheiro não tem cheiro, as escolas particulares aceitam qualquer criança (desde que os pais paguem corretamente) com a incumbência de forjá-las para assumir um pensamento e uma postura típicas da expectativa comungada pelas classes sociais ali representadas naquela escola.
Alguns dos filhos das classes sociais menos favorecidas que são compulsoriamente matriculados pelos pais nas escolas frequentadas pelos ricos sofrem por não se reconhecerem nos amiguinhos, sentem-se como peixe fora do aquário. Os pais se esforçam para pagar as mensalidades, mas não conseguem suprir as demais ostentações dos coleguinha de classe (que não pertencem a mesma classe): as viagens, as roupas, o acesso à cultura e às artes etc. Isso faz com que alguns desses alunos não aguentem a pressão de conviver com as classes mais abastadas, gerando crises em casa (por exemplo, envergonhamento dos pais) ou na escola (por exemplo, isolamento ou agressividade para com os coleguinhas). Esse aluno que está fora da sua classe causa duas preocupações (que se retroalimentam) aos demais pais: 1) o risco da má influência, podendo levar seus filhos por caminhos não desejados como a do consumo de drogas e da realização de pequenos delitos; 2) o risco do filho/filha apaixonar-se por alguém sem classe que possa estar interessado no patrimônio da família. A literatura está repleto de personagens que encarnam esse amor impossível entre classes distintas.
O pior é que o medo comungado pelas classes mais abastadas não passa de um mito, de uma ignorância quanto às classes "perigosas" e suas formas de agir e pensar. As classes estão separadas de fato por um sentimento de indignadade bastante sedimentado que é construído de ambos os lados e que se reproduz no cotidiano, colocando cada um no seu devido lugar. O pobre não quer se relacionar com o rico tanto quanto o rico não quer proximidade com o pobre. E se por acaso esse bloqueio social/cultural for rompido (e a educação não faz muito para que haja esse rompimento), o direito está aí para isso (porque o direito também é uma instância de seleção de classes), para servir aos interesses das classes dominantes (mantendo o patrimônio seguro) e estabelecer a democracia dos iguais. Essa é a seleção: quem conseguir chegar até o final do processo educacional, vencerá, terá um lugar entre as classes dominantes, será um igual.
Puxa, mas que olhar pessimista da educação!! Não. Não é pessimista, é crítico. É um olhar de quem acha que o modelo educacional poderia/deveria ser outro, de quem entende que as ações afirmativas são uma saída viável para confundir a reprodução das classes e para ampliar os conflitos sociais.
________________________________________________
Estou falando do que sei: eu mesmo fui criado fora da minha realidade socio-econômica. Se bem que naquela época era um pouco mais democrático porque as elites frequentavam escolas públicas. Trago comigo ainda 1) o orgulho típico da classe operária (que as vezes se transforma em raiva ou mesmo em uma apatia, que também é uma forma de resistência, assim como o deboche), 2) a impaciência com rituais (dos rituais à mesa aos rituais jurídicos, passando por uma série de outros pequenos rituais, como, por exemplo, o da sedução) e 3) a fala discursada (como se estivesse liderando uma greve ou enfrentando os cães da polícia), entre outras características da classe trabalhadora. E tudo isso que se mantém em mim, pode acreditar, já não é mais original, já fora polido. Alguns dos meus antigos iguais são ainda mais rudes que eu. Como podemos transpor a linha que nos separa se estamos determinados a reproduzir os interesses de nossas classes de origem? Como transpor essa distância sem pagar o preço, sem sofrer as consequencias? Precisamos pensar e agir. Não necessariamente nessa ordem.

14/09/2010

Território

Quando revelo meus segredos,
Deixo você ocupar meu território.
E quando você aqui está,
Não pode pedir pra não entrar.
E agora que o território,
Que não é propriedade,
Já se encontra habitado,
Conquistado,
Colonizado,
Com toda a violência que possa soar;
Com toda a corpulência em que se possa suar;
Com toda a inteligência que se possa imaginar,
Não se pode mais refrear.
Esse "meu" território
É espaço de liberdade,
De liberalidade
E libertinagem.
Esse território não é meu:
Nunca quis território fixo.
Mas se você insitir que é meu,
Insisto que seja também seu.
Que seja nosso lugar vazio,
Sem autoridades,
Sem coações.
Espaço de encontros
E esperança.
Território do diálogo
E do amor.

13/09/2010

É muita crise para pouco whisky

Queria que você estivesse aqui.
Queria atravessar esse oceano que nos separa,
E me juntar a você,
E me abraçar a você:
Sem amarras,
Sem nada.
Em silêncio.
Falando tudo pelo olhar.
Como sempre fizemos.
Juntos.
Sós.
..............................

Jack me faz sonhar;
Johnny me faz pensar.
Mas sempre prefiro você!

12/09/2010

Decisões são sempre difíceis

Decisões são sempre difíceis.
Às vezes decidimos com coragem,
Às vezes na malandragem,
Ou na sacanagem.
A coragem é um medo da subordinação;
A covardia é uma força para manutenção.
E quem disser que não,
Pode me explicar como o forte mantém a relação;
E como o fraco faz a revolução.

Eu que não sou forte,
Vou trabalhando de forma discreta,
E solitária,
Pelo fim da história:
Vou me preparando para o dia do confronto final.
Vou juntando a lenha caída com a mão,
As palavras espalhadas no chão,
Pra fazer uma fogueira que queime as intenções,
E que purifique os corações.

Se enganei a muitos,
Foi por necessidade.
Por medo da repressão
E da castração.
Nunca quis ser o centro das atenções,
E talvez isso tenha me levado pra longe;
Nem fazer algo da qual precisasse me obrigar para sempre,
E talvez isso tenha me levado pra longe.
O sempre sempre foi distante demais pra mim.
Mas mesmo assim,
Vivi cada momento como se não fosse ter fim.
E ninguém pode me acusar de ser relaxado,
Ninguém pode me acusar de ter recuado,
De não ter enfrentado,
E vivido.
Mesmo que temeroso.

Enfim, é o fim!
E toda lágrima que rolar
Será recolhida e contabilizada
E se tranformará em força pra continuar.
Ninguém sabe onde vai parar,
Mas sempre vale a pena recomeçar.
É o começo!

11/09/2010

A saída

Bate a cabeça na parede pra ver se acha uma saída, se acha uma fechadura. Ela está dentro de você, atrás da sua testa. Ou em algum lugar lá fora, se você permitir. Se você tem medo de fantasmas, siga aflito entre as quatro paredes. Pensando em quem pode ir aonde quer. Sofrendo por imaginar como seria bom fugir e amar a pessoa desejada. Ou simplesmente não fazer nada. Talvez você possa. Embora nem todos queiram isso pra você. Nem os vivos, nem os mortos. E quando o exterior governa, fica-se refém, perde-se a autonomia. A vida perde a graça. Mas o entorno agradece e continua seguro.
E aí, o que vai ser? Mas saiba que se encontrar uma saída, você corre o risco insuportável de ser feliz numa sociedade rude.
___________________________________________
Eis uma atualização possível da Alegoria da Caverna.

10/09/2010

Saudades

Ah, Marinna!
Ah, Amanda!
Ah, Rafaela!
Ah, Irene!
Ah, Andressa!

Por que ando tão aflito?
Onde estará o meu conflito?
Quando vou sanar minha tristeza?
Como encontrar minha beleza?

Mais adiante resolverei ir atrás.

09/09/2010

Começaria tudo outra vez

Não consigo dormir.
Não queria acordar.
Fecho os olhos e vejo você.
Abro os olhos e não vejo ninguém.
Passei a noite em claro,
Pensando no escuro.
Imaginando poesias
Sem conseguir parar,
Sem querer parar.
Mas todas se foram.
Eu as perdi.
E já sofro por saber que a perdi.
E as palavras que não escrevi
Não me deixam em paz.
Passei a noite esperando
Mais um dia chegar.
Deitado,
Com um sorriso largado
E uma lágrima teimosa a rolar.
Passei uma noite doída.
Talvez tudo isso seja cansaço;
Talvez não.
Ninguém sabe.
............................................
Não consigo articular as idéias, só consigo lembrar de um bolero:
Começaria tudo outra vez
Se preciso [possível] fosse, meu amor
A chama em meu peito
Ainda queima, saiba!
Nada foi em vão...


A cuba-libre dá coragem
Em minhas mãos
A dama de lilás
Me machucando o coração
Na sêde de sentir
Seu corpo inteiro
Coladinho ao meu...


E então eu cantaria
A noite inteira
Como já cantei, cantarei
As coisas todas que já tive
Tenho e sei, um dia terei...
A fé no que virá
E a alegria de poder
Olhar prá trás
E ver que voltaria com você
De novo, viver
Nesse imenso salão...


Ao som desse bolero
Vida, vamos nós
E não estamos sós
Veja meu bem
A orquestra nos espera
Por favor!
Mais uma vez, recomeçar...(3x)

08/09/2010

Escrever poesia

Escrevo poesia pra esquecer;
Escrevo poesia pra não ler.
Escrevo poesia pra lembrar;
Escrevo poesia pra incomodar.
Escrevo poesia pra não parar de sonhar;
Escrevo poesia pra deixar de sonhar.
Escrevo poesia pra denunciar;
Escrevo poesia pra não lutar.
Bebo poesia pra não parar de viver.
Como poesia pra me fortalecer.
Vivo poesia pra ter prazer,
Pra gritar,
Pra chorar,
Respirar,
Amenizar,
Acordar,
Levantar,
Desejar,
Esquecer.

07/09/2010

Dívidas

"O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta terça-feira um estudo em que 54,36% das famílias brasileiras reconhecem ter dívidas, em uma média de R$ 5.426. (...) Entre as famílias de menor renda, 58,54% admitem estar endividados, enquanto apenas 36,92% das pessoas de maiores receitas dizem ter compromissos financeiros". (Agência EFE, 31/08/2010)
Quando mais da metade das famílias brasileiras está endividada é sinal de que há alguma coisa errada aqui. Qualquer semelhança com a sociedade americana - diagnóstico recentemente feito pelo cineasta Michael Moore em seu novo filme (Capitalismo, uma história de amor) - não é mera coincidência: o problema é esse sistema que mantemos (mesmo que de forma omissiva).
Pra piorar, a pesquisa realizada pelo IPEA mostra que a maioria dos entrevistados acredita que as coisas vão melhorar em um ano. Mas vai melhorar pra quem?
Precisamos pensar essa situação com um olhar menos prepotente e mais humano, e considerarmos a possibilidade de uma efetiva luta por justiça social (redistribuição de rendas) e contra as "facilidades" oferecidas pelas instituições bancárias. Isso também é Direito!

06/09/2010

Aliviando as cargas

Não sou grande demais, nem pesado demais, para entrar nesse espaço. O problema é que venho de mochila. E isso é um inconveniente enorme num elevador. Só há duas saídas: ou você sobe só; ou espera que me livre do excesso de carga. Enquanto isso, vamos nos apertando.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Desde já agradeço pelo espaço.

05/09/2010

Distância próxima

Quando toco em você percebo nossa distância;
E quando me distancio, nossa proximidade.
Mas não há nada que me desestimule do desejo da transposição.
Só você!
Onde quer que a gente chegue,
E mesmo que não chegue,
Terei você sempre aqui.
E queria estar pra sempre dentro de você,
Guardado com carinho,
Mesmo que num cantinho.
________________
Caminhar é melhor que chegar. Inda mais na sua companhia.

04/09/2010

Diferenças e semelhanças sem fim (original)

Não tenho a sua beleza,
Nem a sua clareza.
(Sou dúbio)
Não tenho a sua base,
Nem a sua classe.
(Sou operário)
Não tenho o seu talento,
Nem o seu tormento.
(Sou resolvido)
Não tenho vergonha na cara,
Nem medo da vara.
(Sou abusado)
Não tenho a sua idade,
Nem a sua liberdade.
(Sou preso)
Não tenho a sua lida,
Nem a sua vida.
(Sou morto)
Não tenho nada,
Nem você.
(Somos iguais)

Não tenho você pra mim,
Nem você a mim.
Eis a nossa igualdade!
Essa é minha felicidade.
(Somos infelizes)

Mas, no entanto,
Apesar de tanto desencontro,
Nos encontramos aqui,
No fundo do ser,
Numa sala secreta em que não se pode ver.
Apesar de ninguém saber,
Mesmo sem querer.
E vivemos um sonho bom;
E sonhamos uma vida boa.
E se me disserem pra acordar,
Vou me negar.
Vou me levantar,
Ajeitar os óculos
E me retirar,
Bem devagar:
Com dignidade
E com coragem,
Vou me exilar.
Entristecido,
Humilhado
E apaixonado.
Até o fim.

03/09/2010

Diferenças e semelhanças sem fim (versão editada)

Não tenho a sua beleza,
Nem a sua clareza.
(Sou dúbio)
Não tenho o seu talento,
Nem o seu tormento.
(Sou resolvido)
Não tenho vergonha na cara,
Nem medo da vara.
(Sou abusado)
Não tenho a sua idade,
Nem a sua liberdade.
(Sou preso)
Não tenho a sua lida,
Nem a sua vida.
(Sou morto)
Não tenho nada,
Nem você.
(Somos iguais)

Não tenho você comigo,
Nem você a mim.
Eis a nossa igualdade!
Essa é minha felicidade.
(Somos infelizes)

Mas, no entanto,
Apesar de tanto desencontro,
Nos encontramos aqui,
No fundo do ser,
Numa sala secreta em que não se pode ver.
Apesar de ninguém saber,
Mesmo sem querer.
E vivemos um sonho bom;
E sonhamos uma vida boa.
E se me disserem pra acordar,
Vou me negar.
Vou me levantar,
Ajeitar os óculos
E me retirar,
Bem devagar:
Com dignidade
E com coragem,
Volto a me exilar.
Entristecido,
Humilhado
E apaixonado.
Até o fim.

02/09/2010

Segurança no caos

A celeridade com que as coisas são postas confunde até os mais atentos. E de tantas dúvidas e tormentos, conseguimos caminhar seguros.

01/09/2010

Vamos à luta?

Queria falar com você.
Mas nem sempre a gente se vê.
ME diz onde te acho
Ou como me afasto.
Precisamos nos encontrar,
Mesmo sem querer,
Pra gente conversar,
Pra gente se entender.
(Ou se desentender).
Pra falar da liberdade,
Da política,
E da instabilidade.
Pra falar à vontade,
Até a boca desejar.


Vamos conversar
E deixar a conversa pra lá.
Quando a gente conversa
A gente se acerta.
Vamos combinar o levante
Numa cena instigante:
Pode ser num café
Ou mesmo num cabaré.
Vamos sonhar com a liberdade
Enquanto desfrutamos.


A insanidade da guerra
Está na obrigação de matar,
Em usarmos as mesmas armas.
Quero uma guerra diferente,
Uma guerra à frente,
Com rosas na mão.
Posso até ser preso,
Mas me recuso a prender!
Temos o direito à resistência,
Mas não à penitência.
Respeito sua liberdade
E a quero assim.
Também quero ser livre
Para ir até o fim.
Se você quiser,
Pode se juntar a mim.
Essa já é a luta.

Vamos à luta?
Ou prefere um cineminha?
'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''
As dúvidas permanecem, viu? Sem dúvida não há conhecimento.