29/12/2010

Luxo e lixo

Há coisas na vida que nem todos conhecem. E nunca conhecerão, nem de ouvir falar. E se ouvirem falar, não acreditarão. São conhecimentos limitados a classes específicas. Conhecimentos para poucos. Conhecimentos extremados: do lado de cima e do lado de baixo. E posso afirmar com convicção, são conhecimentos que não trazem nenhuma aquisição. Pode-se passar uma vida toda, e mais algumas outras, sem experimentar o que não entendemos o porquê. E chegaremos a um mesmo fim: o luxo não suporta o lixo e o lixo sonha com o lixo do luxo. Para ambos, faltam conteúdos. À riqueza lá de cima falta sensibilidade; à pobreza lá de baixo, também. Uns exibem, os outros sobrevivem. Por isso estamos longe de diminuir os abismos, porque eles se completam, se merecem, se consomem. Não há fagulhas entre eles, porque são marginais. As fagulhas são produzidas nos contatos entre as classes próximas. E as do meio sempre sofrem. Sofrem porque são ameaçadas pelas de cima e pelas de baixo. Sofrem porque querem ser como as de cima e fogem das de baixo. As do meio estão encurraladas. E são incapazes de gerar uma lógica econômica diferente das classes marginais: consumo. Consumo que gera lixo, em cima; e lixo pra gerar consumo, em baixo. Os opostos se destroem. E destroem a humanidade. E o humanismo. Viver passa a ser sobre-viver (viver sobre) e sobreviver (se virar). O fim está próximo. Acabou.