16/10/2010

Razão dormente

Se não fosse sua razão,
Eu perderia a minha.
Se é que já não perdi.
Mas em perdendo a razão,
Não se perde mais do que se ganha.
O elogio da cautela é para manutenção.
E só há mudança na rebelião.
Mas pra mudar é preciso querer.
É preciso enfrentar
E arcar.
Mesmo sem razão.

Não há mudança sem dor.
Mas dessa dor nascerá uma flor.
Uma só:
Suficiente,
Inteira,
Única.
Brotando do solo árido,
Como um milagre.
Até ser árvore,
Floresta
E pó.

Tudo acaba um dia.
Até o dia.
Nos tempos de hoje,
A razão já era!
Descartes morreu!
E isso também é racional.
Sim, "O sono da razão produz monstros".
Mas quem tem medo de monstros?
Não há razão razoável para arrazoar sobre o fim.
Só o medo paralizante que a razão produz.
_________________
Imagem da gravura clássica do espanhol Goya.