03/10/2010

Entorno

O meu entorno é a minha cara: o gosto é socialmente produzido e é definido pela posição e condição de classe. Estou junto da minha classe, conformando-me ao padrão esperado de mim.
O meu entorno não é a minha cara: eu não estou no controle, já que o condicionamento social na minha classe é maior do que nas classes altas. Aqui há menos liberdade. E nem sei se há.
O meu entorno precisa ser a minha cara: se o meu entorno não fosse a minha cara, provavelmente eu não me reconheceria e nem existiria. Sou uma formação e conformação da minha classe.
A vida do lado de cá é tão dramática quanto do lado de lá. Nisso somos iguais: vamos atrás dos nossos iguais, reproduzimos os valores iguais dos nossos iguais. E somos sempre mais do mesmo. Sem dúvida. Sem perceber.
Mas há uma pequena possibilidade de vencermos a distância que nos separa. Não sem consciência. Não sem resistência. Não sem luta. É com o fim dessa distância que eu sonho. E não temo as consequências.