12/10/2010

Angústia

Tenho pensado muito e escrito pouco nesses últimos dias. Na verdade nem tenho escrito pouco, tenho publicado pouco, já que considero escrever um ato burocrático: colocar no papel (ou no computador) o que se escreve primeiro lá dentro, na alma e na memória. E como não consigo parar de viver, também não consigo parar de escrever. Aproveito as experiências para refletir. Sempre fui assim.
Tenho umas quatro ou cinco postagens paradas. Para o desenvolvimento de algumas delas, falta-me coragem. Em outras, vontade. No meio da escrita de um texto abandono tudo, numa fuga do auto-enfrentamento que a escrita provoca em quem escreve. Mas não paro de pensar. É sempre assim.
Tenho uma pilha de CDs num pequeno armário da sala. Ligo o som querendo relaxar. Mas aí ouço músicas francesas e sou torturado pelo pensamento que não me abandona, e nem quero; ouço Gonzaguinha e a vida se intensifica, o que desejo; ouço Cartola e dissipo a crise, acontece. É a arte provocando a vida. E o texto vai se estruturando em algum lugar. Acho que sempre fui assim.
Tenho uma pilha de livros ao lado da cama e uma outra série de livros espalhados por lugares estratégicos da casa. Estou lendo uns cinco ou seis ao mesmo tempo, em momentos diferentes de cada dia. E me deleito em todos os eles, com cada um deles: Florestan, Melman, Wacquant, Adorno, Elias, Giddens... E ainda quero ler um Graciliano, um Kierkegaard, um Saramago e um Joyce, entre outros. E cada leitura realizada ou desejada desconstrói parte dos meus argumentos e me corrói. Acho que estou ficando doido. Talvez tenha sido sempre assim.
Não tenho nada que possa chamar de meu. Se precisasse sair por aí, carregaria apenas uma pequena mochila com poucos objetos pessoais. E muitas memórias e expectativas. Caminharia buscando me encontrar em algum lugar. Nem sempre fui assim. E essa liberdade assusta, aprisiona e liberta.
Escrevi esses parágrafos anteriores para mostrar que quando enfrento um dilema, enfrento; quando tenho uma esperança, espero; quando sinto medo, tremo; e quando vejo o fim, vejo um começo. E me orgulho de ser um eu conformado (pela classe) e inconformado (com a classe) ao mesmo tempo, construído e desconstrúido constantemente. Sempre em busca de uma maior autonomia e alegria. De uma outra poesia. Em busca de um novo amor.
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Tenho pensado muito e feito pouco. Ou feito pouco e pensado pouco. E se não tenho pensado é por fuga das consequências implicadas na ação. E se não tenho feito é porque penso demais.