27/09/2010

Relação amorosa é objeto

Quero nessa postagem defender a idéia de que relação amorosa é objeto, é produto. Se, como defendi na postagem anterior, o amor é uma ação individual humana comprometida com a alegria do outro, então, a relação amorosa acaba sendo uma consequência do amor, um produto da ação de amar. E como consequência de uma ação realizada por seres humanos falhos, limitados, errantes, a relação amorosa também é frágil e está sujeita a quedas e quebras. Trata-se de um produto (objeto) frágil. Faço essa afirmação inicial para tentar responder à seguinte questão: a cama salva a relação?
Ouço constantemente das pessoas que a vida sexual de um casal responde por grande parte do sucesso ou fracasso de uma relação amorosa. Ontem mesmo um familiar me falou até em valores, embora não tenha dito a fonte desse "conhecimento": "80% da relação é sexo!" Eu discordo inteiramente. Sei que sexo é parte da ação de amar a outra pessoa e que tem um papel importante na relação, mas ele não pode ser responsável pelo sustento de uma relação amorosa por motivos óbvios: com raras exceções, o cotidiano de um casal é muito mais do que sexo. Se não fosse assim, não trabalharíamos e nem produziríamos nada. Além do mais, é impossível que esse "conhecimento" seja verdadeiro porque nos falta tempo e espaços para colocá-lo em prática. Quer dizer, precisaríamos de mais tempo e mais espaços dedicados ao prazer do que temos de fato. O sexo será tanto melhor, quanto mais intensamente os amantes dispuserem-se a amar.
A relação amorosa é o objeto produzido pelos sujeitos amantes. O objeto (o vínculo, a relação) não pode ser mais importante que os sujeitos que o produzem. O fetichismo é exatamente isso: uma reificação do sujeito e sobrevalorização do objeto. O fetiche faz parte de uma relação amorosa, mas não pode ser a base dela porque geraria uma insegurança enorme entre os amantes, já que o fetichismo está centrado no egoísmo. E aí não tenho dúvidas de que o egoísmo mata a relação amorosa aos poucos, porque gera uma insegurança emocional nos agentes (amantes), que se veem como meros objetos de realização do prazer egoístico do outro. Sem o comprometimento com a alegria do outro o amor produz um vínculo amoroso frágil, uma relação fraca.
Relação amorosa é como um objeto frágil que pode rachar. Ela deveria vir sempre acompanhada daquele adesivo vermelho onde se lê em letras maiúsculas: CUIDADO FRÁGIL. E o cuidado aqui não deve ser com a relação, mas com o outro. Sob pena de nos esforçarmos mais em salvar a relação (o objeto) que o outro (o sujeito), mantendo uma relação de fachada.
Por fim, pra responder a pergunta inicial (a cama salva a relação?) eu diria o seguinte: a probabilidade disso acontecer é mínima. Até porque precisaria ser uma cama elástica enorme, quase como a rede de proteção utilizada pelos trapezistas para salvar o objeto, que está em queda livre, de se partir. A vida é tão rápida que nem dá tempo de pensar em tecer uma rede de proteção.
É isso!