04/04/2010

Busca

Foi a pé pelo caminho empoeirado de terra rachada. Foi em busca de água. Lata vazia na mão. Foi olhando a paisagem: quanta desolação! Chegou a pensar que seu deserto fosse natural, que seus olhos sempre veriam tudo igual. Dormiu no chão. Seguiu sem direção. E depois de longa jornada com o sol na cara, viu o verde que mata. Achou que tivesse morrido. Mas logo abriu um sorriso e viu que a diferença era real (ou dolar, ou outra moeda qualquer), que vivemos numa sociedade desigual. E que a transposição do mapa pode não significar nada além de cansaço e reencontro. Ele reviu os amigos em palafitas. Abraçou familiares no chão, enquanto estendiam as mãos. E se deu conta de que a vida ali era ilusão. E pensou se era melhor morrer de sede ou afogado. Isso não era pra ele não. Resolveu, então, voltar pra terra. Mas encontrou alguém que prometeu mais ilusão. Como todo sujeito sem direção, acreditou no discurso e pagou caro então. Foi parar na terra livre do amor: conheceu a dor da solidão e teve que encontrar solução. Tão longe de sua origem e tão próximo de seu destino final! Plantado no chão estranho para sempre. Não morreu de sede. Morreu de nossa morte natural: só.