14/02/2010

Roda de carnaval


Mais um carnaval.
São tantos carnaváis!
Quantos carnaváis?!
Mas cada um deles é apenas mais um.
Carnaval de verdade é hoje.
Momento de subversão.
De transgressão da ordem.
De uma ordem que deveria ser mais transgredida cotidianamente,
Já que enfadonha, cansativa, desigual e injusta.
Precisamos de mais carnaváis,
De mais subversões.
De mais gozo.
A cada semestre.
Ou a cada trimestre.
Ou a cada mês.
Semanalmente.
Ou diariamente.
Sei porquê o carnaval brasileiro é tão rico.
É que nossas opressões são mais intensas
E descontamos tudo na plasticidade do nosso gingado
E de nossa festa carnavalesca.
É o nosso desabafo.
O nosso grito de insatisfação
Que apresenta uma nova possibilidade,
Leve, bela e alegre.
Poesia pura.
Mas como o carnaval é uma válvula de escape,
Não o levamos a sério.
Não o suficiente
Para gerar mudanças permanetes.
Suspendemos a lei da moral por três dias,
Talvez por uma semana,
E nos libertamos.
Passado esse tempo,
Voltamos à rotina de opressão.
E aí suspendemos (ou usamos) a lei legal para dar cabo à exploração.
Para por em prática nossa moral de favores, de conchavos,
De acordos.
Acordamos assim
Cada dia,
Todo dia.
Menos no carnaval.
Ah, o carnaval!
Mais um carnaval.
São tantos carnaváis?!
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A forma não é sempre a fôrma do conteúdo. Por vezes a forma é mais, é o próprio conteúdo. Mesmo que ela (a forma) pareça deformada.