11/03/2009

Perder ou ganhar sozinho

Havia  uma brincadeira que meu pai sempre fazia sobre um amigo dele que era maratonista, que era dizer o seguinte em tom de deboche: "Fulano, chegou em segundo lugar na São Silvestre na categoria dele. (Pausa para a reação de surpresa do interlocutor) Só havia dois competidores". A brincadeira do jeito que era feita, com a ênfase que ele dava, se tornava mortal, todo mundo caía na risada. Mas é claro que se tratava de uma piadinha de mau gosto porque zombava da capacidade (ou até da competência) dos outros.
Hoje pensei numa possibilidade de modificar aquela piadinha do meu pai, dando um tom ainda mais dramático: e se o sujeito da piada em vez de competir com apenas um, competisse sozinho e ainda assim perdesse? Aí lembrei de outra brincadeira infame que ele costumava contar sobre outro amigo: "Beltrano candidatou-se a vereador e não teve nenhum voto. (De novo a famigerada pausa de uns cinco segundos para interlocução) Nem ele mesmo votou nele".
Talvez a idéia de competir sozinho não seja competir, já que competir pressupõe a presença de pelo menos duas pessoas. Disputar alguma coisa consigo mesmo e não alcançar um resultado positivo parece ser um atestado de incompetência. Isso mexe com a auto-estima. A falta de competidores coloca o competidor único numa condição de humilhação se ele não alcança um bom resultado. Essa derrota se torna uma derrota pessoal. Diferente da derrota imposta por um adversário mais capacitado, o que até alivia a consciência do derrotado. Afinal, quem tirou em primeiro lugar estava (pretensamente) melhor preparado!
E o pior é pensar na situação oposta, que mesmo ganhando ele seria humilhado. Quer dizer, se o competidor único ganhasse, apareceria algum sacana que diria: "mas também, com o gol vazio (sem adversários) até eu!"
Competir consigo mesmo deveria ser evitado e até proibido. Só gera traumas.
Mas como as derrotas também ensinam... Bola pra frente.