12/12/2010

Demônios

Meu objetivo não é ofender ninguém, mas hoje gostaria de falar dos demônios. Se não for pra você, nem leia. Vou seguir escrevendo para outros demônios. Agora, se me perguntar por que demônios resolvi escrever sobre isso, não vou saber responder. Acho que estava inspirado, quer dizer possuído.
Demônios existem. Eu mesmo conheço alguns. Eles estão por aí. E foram criados para serem nossos bodes expiátórios. Embora não saiba por que associar os demônios a essa figuras simpáticas e tipicamente nordestinas que são os bodes? Deve ser por causa do chifre pontiagudo. Mas vamos em frente, que de boas intenções o inferno está cheio. Os demônios produzem o mal. Então, quando realizamos o mal, também somos demônios. Mas preferimos colocar a culpa nos demônios (nos outros demônios, os invisíveis). É menos penoso pra nós quando nos colocamos como vítimas de um movimento espiritual (ínfernal) que conspira contra nós.
Demônios são seres comunicativos e antenados (e antenados aqui não tem relação com os chifres): são ligados em tecnologias de ponta e participam de redes sociais. São orkuts e facebooks demoníacos. Assim ficam sabendo dos problemas das pessoas e aparecem na hora certa para dar aquela forcinha, aquele empurrãozinho abismo abaixo.
Uma coisa que me intriga é como os demônios possuem também objetos? Há o demônio da garrafa de cerveja (e de outras bebidas alcoolicas), o demônio do cigarro (e de outros tipos de fumos, se bem que estejamos em pleno furor anti-tabagista), o demônio da TV (aberta, porque a TV fechada é um paraíso), o demônio do jogo (incluindo as bolsas de valores), o demônio da saúde pública (um dos mais assustadores) e o demônio do consumismo (e de outros ismos). E há outros tantos demônios encarnados em coisas materiais as mais variadas. Todos sempre querendo fazer o mal a algum incauto.
Demônios são também solidários. E nesse aspecto, temos muito a aprender com eles. Por exemplo, quando abrimos uma garrafa de cerveja, libertamos o demônio preso ali. Depois de beber algumas garrafas, os demônios libertos se juntam para libertar o demônio que está preso dentro de nós. E aí soltamos a língua (e outras coisas mais). Quando estamos possuídos pelos demônios das garrafas de bebidas alcoolicas, começamos, por exemplo, a falar até sobre o que nem sabíamos que sabíamos. E soltamos o corpo e o pensamento. Libertamos o mal que nos consumia em oculto. O azar é do nosso companheiro de mesa. Mas como ele, provavelmente, estará bêbado também, não tem problema nenhum, ninguém se fere. O problema é beber junto com quem não está bebendo bebida alcoolica, aí o pau come. Não sei porque usei essa expressão para finalizar a frase anterior? Talvez sejam os demônios do sexo se manifestando. Então vamos falar dessa casta também, pra não criar mais confusão entre os demônios.
Demônios são seres altamente eróticos. E aqui temos mais um tanto a aprender com eles. Os demônios são especialistas em putarias e sacanagens. Eles aumentam nossa libido e nos fazem amantes ousados e tarados. E quem entende de sexo sabe que imaginação e disposição são fundamentais.
O pior dos demônios é que eles são fofoqueiros, mas também ninguém é perfeito. Os demônios, que, como vimos, são solidários e afixionados em teconologia, ficam esperando a primeira oportunidade para falar pra todo mundo (pelo celular e/ou twitter) quem foi o último possuído e para culpar os seres humanos, que são errantes, por suas atitudes demoníacas. E isso não é legal porque faz a gente se envergonhar, e se arrepender, abrindo espaço para o discurso religioso e para a venda do perdão.
Pra finalizar, já que toquei nesse assunto (religião), vem a pior parte: demônios também vão para o céu. Não como demônios, mas como redimidos, perdoados, ex-demônios. Vão disfarçados porque sabem que não entrariam com suas próprias caras e roupas. E continuam a atuar livremente de lá de cima, influenciando (e até dirigindo) também os líderes religiosos, que os chamam de Legião (pra tristeza dos adoradores do rock dos infernais meninos de Brasília).
Em tempos de TIM (Time Is Money), tudo é vendido (até a mãe). E os demônios (que não têm mãe) são negociantes natos. A liberdade é o produto mais caro vendido pelos demônios. E quem não quer ser livre? Então, estamos lascados, porque teremos de pagar o preço da liberdade. A vida não é um inferno? E os demônios somos nós.
Você me perdoa?
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Inspirado no (ou possuído pelo) discurso de Chico Science, em "Monólogo ao pé do ouvido", primeira faixa do disco "Da lama ao caos". Ele diz o seguinte numa parte: "O medo dá origem ao mal/O homem coletivo sente necessidade de lutar/O orgulho, a arrogância, a glória/Enchem a imaginação de domínio/São demônios os que destroem o poder bravio da humanidade".