24/09/2010

Corpos deitados no chão

Olho para o chão e ainda vejo os corpos caídos ali. E ao lado uma manchinha de café. Mas eles não estão mortos. Eles ainda gemem. E suspiram com os olhos parados. Com os olhos virados.
Embora a morte pareça breve, eles não querem se entregar. E lutam para continuar por ali. Dia após dia. Semana após semana. E ninguém sabe do que se trata, donde vem o cheiro estranho que paira no ar e os cabelos encontrados em todo lugar. Nem a tal da música francesa que toca sem parar.
O sangue já pinga e o sorriso continua parado no canto da boca. E todos percebem que há alguma coisa errada (ou certa) para acontecer. Mas ninguém sabe o quê.
E eu que não sou bobo nem nada, não quero ficar pra ver. Quero mesmo é sair daqui. Viajar para algum lugar, onde se possa descansar, cansar, pensar, conversar, passear, relaxar... Gozar. Quero sair por ai. Pode ser pra Guaçuí. Ou pra Sapucaí. E se ainda puder ir à luta, quero ir a Cuba.
Quem sabe tudo não dê certo? Quem sabe o errado não se torne em certo? Quem sabe ao certo. Quero estar sempre por perto. Mesmo quando tudo parecer incerto.
Mas se a morte, enfim, chegar... Vou deixar os corpos no mesmo lugar. Ficarão no chão, sem sepultar. Até a decomposição, afinal, tudo apagar. Isso vai demorar. Enquanto isso, vamos comer uma picanha ao ponto em algum lugar e depois sair pra dançar?
...
Desenho feito por Picasso. Gênio!