05/04/2007

Repressão e criação


Os anos de repressão militar foram anos muito criativos para a música brasileira, em particular para a música de protesto. Em parte porque os militares, contraditoriamente, não deram importância aos artistas nos primeiros anos do regime. Só posteriormente, a partir do governo Médici (1969), é que se intesifica a perseguição e censura aos artistas. Aí os músicos aumentam a criação de canções para confrontar o regime militar, de uma maneira velada e inteligente para não correr riscos maiores. É dessa época as maiores criações musicais de protesto, como o discos "Construção" e "Apesar de você", de Chico Buarque, e Tropicália, de Caetano, Gil e cia, entre outros discos e músicas importantes no cenário da música de protesto.

Se os anos de repressão foram anos de muita criatividade musical, isso não quer dizer que não tenhamos tido músicas criativas sem regimes repressivos, nem que todas as músicas produzidas naquele período tenham sido criativas e engajadas politicamente. Muito menos que precisamos ter de volta o autoritarismo para voltarmos a produzir músicas de protesto no Brasil. Alguém me disse dia desses que "a mediocridade musical que vivemos decorre da falta de inimigos políticos, como os militares foram para a classe artística daquele período". Ousei discordar e inverter o argumento: talvez tivéssemos mais inimigos políticos se fossemos politicamente mais engajados. Quer dizer, a ação dos militares foi imprescindível para a criação musical brasileira, mas além disso, a criação musical brasileira foi um calo no sapato dos militares. A música de protesto no Brasil ajudou a demarcar o terreno político da época, com efeitos sobre toda a sociedade e, em partcular, sobre a juventude da época. Meu argumento é que se tivermos mais compositores e músicos engajados politicamente, teremos, em contrapartida, regimes políticos mais furiosos com a atuação dos músicos-políticos. Problemas sociais não faltam para protestarmos, mas onde estão os músicos-políticos? Se vivemos num marasmo musical, em termos de músicas de protesto, isso decorre mais de nossa apatia política. Até a próxima!