09/04/2007

O tempo não cura!


Insisto em dizer que precisamos tratar nossas mazelas, sociais ou individuais, como mazelas. Não dá é pra esparar que as coisas se resolvam por si mesmas. Problemas para serem resolvidos e não voltarem a ocorrer pelos mesmos motivos que os deram causa, precisam ser reconhecidos (diagnosticados), analisados (discutidos) e enfrentados de peito aberto (tratados).
Existem algumas expressões que estão na boca dos brasileiros e que revelam um de nossos problemas como brasileiros: nossa dificuldade de enfrentar de frente os problemas da vida. As expressões a que me refiro são: "O que não tem solução, resolvido está"; "O tempo cura tudo!"; "Eu dou um boi para não entrar numa briga. Mas, uma boiada para não sair".
Alguns autores vão chamar a atenção para a "inércia" da sociedade brasileira diante dos fatos da vida, da história. Outros autores vão nos classificar de conformistas, alienados, expectadores, acomodados e até bestializados. Independente dos porquês que explicariam a nossa condição de inércia, como o medo da repressão, por exemplo, precisamos estar conscientes da nossa dificuldade de entrarmos na luta. Somos mais chegados a "ver a banda passar" do que a fazer a hora e não esperar acontecer. Por isso, precisamos criar meios para estimular os indivíduos à participação social e, fundamentalmente, a não esperar as coisas acontecerem, porque, como o título desta postagem diz, o tempo não cura nada.
Achar que o tempo cicatriza tudo é varrer os problemas para debaixo do tapete. Eles continuarão ali, só esperando alguém descobrí-los. Não dá pra continuar a vida sem considerar as perdas de um problema não resolvido, ou mal resolvido. Se é um problema pessoal ele precisa ser colocado em pratos limpos e discutido abertamente. Se é um problema social, precisamos conhece-lo e resistirmos à tentação de reproduzí-lo, de vivermos "como nossos pais", como cantou Elis Regina.
Deve ser enfrentado por nós as heranças do regime escravocrata, os traumas das ditaduras e o mal-estar nas relações familiares, por exemplo. O tempo não é nosso aliado nesse enfrentamento. Pelo contrário, é nosso algoz: quanto mais o tempo passa mais os problemas vão se enraizando na alma e vai ficando mais difícil se libertar deles.