16/03/2007

Música e protesto


A propósito do protesto público contra a violência convocado pelo vocalista da banda Detonautas, vou começar a publicar uma série de textos que tenho escrito sobre o tema da relação da música com protestos políticos e sociais.
Nesta primeira postagem, quero, antes de tudo, parabenizar a iniciativa do vocalista dos Detonautas, Tico Santa Cruz, pela iniciativa de convocar os jovens para um ato público de protesto contra a violência que nos circunda tão de perto. Ele mesmo sabe bem o que é isso. Quero também falar um pouco do papel da música e das performances musicais para tomada de posição política e manifestação de idéias políticas.
Alguns autores vão chegar a dizer que como somos seres políticos, não há nenhum ato humano que não seja também um ato político, mesmo que não tenhamos consciência disso. Penso que esse tipo de pensamento amplia demais o leque de atitudes políticas e até barateia as ações políticas. No caso da música, especificamente, não são todos os músicos que estão interessados em envolver-se nas questões sociais, que é um envolvimento político. Pelo contrário, uma minoria está disposta a tomar um posicionamento político nos palcos ou através de suas músicas. Porque correm o risco de serem tidos como "chatos", ou "oportunistas" (tentando usar os problemas sociais para aparecer na mídia ou para catapultar sua carreira) ou até correm o risco de encurtarem sua carreira como músicos, como já aconteceu antes. Assunir uma posição política pública, contra ou a favor de alguma coisa, é sempre um risco para a carreira pessoal do artista. E isso não é de hoje. Mas também não é de hoje que uma minoria de músicos assume esse risco e abre mão de pensar só em sua própria carreira para usar os microfones a fim de divulgar idéias e ideais políticos, nem sempre nobres, nem sempre de oposição.
A música, como qualquer espaço de atuação profissional é também um espaço possível de atuação política. Quando rejeitamos participar de esquemas de corrupção, ou quando nos indignamos com a perseguição sofrida (por nós ou por outros) no ambiente de trabalho, ou quando denunciamos a injustiça como contrária à ordem social democrática, e nos recusamos a participar dela, estamos tomando posicionamentos políticos. E isso pode acontecer em qualquer nicho de atuação profissional, inclusive na música. O músico protestar contra problemas sociais os mais diversos ou contra ações ou reações de pessoas "importantes", inclusive políticos, é sempre uma manifestação de não-alienação e de envolvimento social. É uma prova de que o músico está antenado nas mudanças sociais e tem pensamento próprio.
Precisamos de mais músicos engajados no conhecimento da realidade social e na tentativa de mudar esta realidade. A música transpõe barreiras econômicas, sociais e culturais, falando a sociedades divididas economicamente, racialmente, religiosamente, politicamente... Os músicos falam uma linguagem universal (a música) que pode ser um excelente instrumento de divulgação de ideais de transformação social e de mudança de atitudes individuais. Como precisamos, você e eu, de ideais de esperança de que as coisas podem melhorar! E como precisamos, você e eu, desses ícones que levantem a bandeira da indignação com as coisas que aí estão ou de uma transformação possível da vida individual e social! Cazuza cantava, "Ideologia, eu quero uma pra viver". Músicos, peguem os microfones e os instrumentos musicais e protestem!